domingo, 13 de março de 2011

Terremoto arrasou Lisboa na época do Marquês


Com o terremoto seguido de um tsunami que ocorreu na última semana no Japão, é lembrado de outras tragédias, como o terremoto no Haiti em 2010 ou o tsunami que arrasou o litoral de vários países asiáticos em 2004. Mas indo um pouco mais longe na história ocorreram casos em que locais vieram a sofre com estes dois tipos de catástrofes, como no terremoto de Lisboa em 1755:



O primeiro dia de novembro de 1755 brindou Lisboa com uma linda manhã de outono. O ar estava tépido e as igrejas, apinhadas de gente – era o dia de Todos os Santos. ‘Súbito, um ronco vaporoso, enorme trovão subterrâneo. Cavalgada de ciclopes, que se aproxima em doida correria, arrastar de carros gigantes nos abismos da terra. Nos altares, oscilavam as imagens; as paredes bailam; dessoldam-se traves e colunas; ruem paredes, com o abafado som da caliça que esboroa, e de corpos humanos esmagados; no chão, onde os mortos repousam , aluem-se os covais para tragar os vivos’. Na descrição clássica do historiador português João Lúcio de Azevedo, o terremoto de Lisboa alcança todo seu terror e magnitude. Um dos maiores desastres naturais na história, o evento intrigou filósofos e cientistas durante o século 18 e marcou a ascensão do marquês de Pombal. Acuado e com medo das hordas famintas de sobreviventes, o rei, José I, de seu palácio em Belém, deu plenos poderes ao único de seus ministros que se mostrou capaz de lidar com a tragédia. Pombal não perdeu tempo. Ordenou que os saqueadores fossem sumariamente enforcados, fixou os preços dos alimentos e do material de construção nos níveis anteriores ao desastre e fez com que os corpos das vítimas fossem amarrados a pesos e jogados no oceano. Calcula-se que entre 8 mil e 30 mil pessoas tenha morrido na tragédia.



Quem sobreviveu ao tremor teve de enfrentar o maremoto que veio depois – segundo escreveu o então cônsul britânico em Portugal, Edward Hay, as águas ‘elevaram-se de 6 a 9 metros’. As perdas materiais foram incalculáveis. O Real Teatro da Ópera, terminado no mês anterior, ficou em ruínas. Trinta e cinco igrejas desabaram sobre os fiéis que rezavam – o tremor ocorreu bem no horário da missa. Em uma única mansão da cidade, perderam-se 200 pinturas (incluindo um Ticiano e um Rubens) e uma biblioteca com aproximadamente 18 mil volumes. Depois do socorro às vítimas, Pombal convocou engenheiros e topógrafos e tratou logo de reconstruir a cidade. Lisboa, depois das ações do marquês, tornou-se um exemplo da arquitetura iluminista: traçados retos substituíram as antigas vielas medievais e edificações monumentais foram erguidas para sediar a administração pública. A Biblioteca Real foi reorganizada, a partir de aquisições de livros, mapas e documentos em toda a Europa. Quando a corte portuguesa veio para o Brasil em 1808, o acervo foi trazido para o Rio de Janeiro – e a maior parte dele ainda está lá, guardada na Biblioteca Nacional".



Fonte: revista Aventuras na História, edição nº 35, julho de 2006.

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