domingo, 14 de abril de 2013

Mali: bastidores de um drama africano
Historiador da UnB analisa os interesses da recente intervenção militar da França na ex-colônia, assolada por conflitos étnicos e religiosos

por Marlúcio Luna


A intervenção militar francesa no Mali gerou uma polêmica sobre quais são os motivos que levaram o envio de soldados à ex-colônia. Há quem aponte interesses econômicos de Paris nas jazidas de urânio. Outros acreditam que a atuação de grupos radicais islâmicos justificaria a presença de tropas da França. Para o historiador Pio Penna Filho, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o cenário é mais complexo e não permite visões simplistas. Ele chama a atenção para a política externa Palácio do Eliseu para a África e destaca que, entre 1960 e 2010, houve cerca de 40 intervenções militares francesas em antigas colônias. Penna Filho frisa que a maioria das revoltas africanas tem origem na fragilidade dos Estados e na falta de legitimidade dos governos, relativizando a influência de questões étnicas e religiosas nos conflitos. Nesta entrevista, o professor analisa a atuação dos grupos radicais islâmicos na região, bem como contextualiza a linha de ação dos chamados jihadistas.

Qual o contexto da operação militar francesa no Mali, iniciada em 11 de janeiro?
Desde a década de 1990, o Mali vem enfrentando o enfraquecimento do poder central. Em se tratando de África, onde os Estados têm estruturas extremamente fragilizadas, a situação se torna ainda mais grave. Nos últimos anos, houve uma sucessão de governos fracos e sem legitimidade. Para completar, houve um golpe militar em março de 2012. Apesar do discurso de seus líderes, de que o golpe seria resultado da fraqueza do presidente Amadou Toumani Touré, o que se viu foi um novo governo fraco e sem legitimidade.

A fragilidade política e institucional do Mali favorece a ação dos radicais islâmicos?
Antes de falar sobre os grupos radicais islâmicos, também chamados de grupos jihadistas, é interessante observar que a revolta no Mali segue o padrão de outras que ocorrem em todo o continente africano, não importando qual a religião predominante em um ou outro país. As revoltas são resultado da falta de mecanismos que garantam à sociedade a participação no jogo político. Há uma distância imensa entre o Estado e a sociedade. Como a população está afastada do centro do poder, ela não consegue apresentar suas reivindicações. Não há exercício da cidadania. Junte-se a isto o histórico de fragilidade econômica da África e temos as condições ideais para o surgimento de revoltas. Com exceção da África do Sul e de alguns países do norte do continente, o que temos na África é uma lista imensa de Estados frágeis.



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